Texto: Willian Tito

Desde o fim do ano passado, o norte da África e o Oriente Médio vivem dias aflitos e também de esperança com a renovação. Os países que têm déspotas no comando vêm recebendo duras cargas dos ativistas digitais e militantes que enfrentam exércitos nas ruas. O novo termo (ativista digital) é o que há de mais fantástico no mundo moderno. A nova trincheira dos que buscam as melhorias e avanços sociais tem nome: Twitter e Facebook.
Através dos sites de relacionamentos, as ondas de transformação social acontecem com a instantaneidade concernente ao mundo cibernético. Mas o virtual flerta com o real e faz dele sua pedra-base para oportunidades de metamorfose não apenas na geopolítica, mas, principalmente, na forma de ver e valorizar as coisas do mundo. Uma nova ordem mundial está sendo desenhada em nossas vistas e está ao alcance de nossa participação.
No último sábado, 11, aqui em nossa aldeia, Teresina, aconteceu a primeira de muitas mobilizações que nascem nas redes sociais e ganham as ruas. Não carece ser profeta pra visualizar um futuro onde as mudanças começam no debate espontâneo ou estimulado das redes sociais e posteriormente invadem os logradouros públicos. Iniciada no dia 23 de maio deste ano, a campanha #AssinaElmano saiu do site de 140 caracteres e foi para a avenida Raul Lopes, zona leste da capital mafrense, em busca de um direito legítimo dos diabéticos.
A hashtag (termo usado para designar expressão ou palavra que está em pauta no Twitter e por ele é indexado à posteridade com o uso do sinal jogo-da-velha ou, para muitos, especialmente ,músicos, sustenido) #AssinaElmano foi criada pela publicitária Jeane Melo. O objetivo é sensibilizar o prefeito Elmano Ferrer a sancionar a Lei 46/11 aprovada por unanimidade pela Câmara Municipal.

A causa da Lei dos Diabéticos é nobre. Considerando que uma faixa de cerca de 10% da população mundial tem algum dos tipos de diabetes, o Brasil tem mais de 20 milhões de pacientes que precisam de cuidados especiais. O Piauí deve ter mais de 300 mil pessoas na mesma situação. Mas os dados sobre a doença são escusos. Não há por parte do poder público um estudo detalhado da realidade da diabetes. Mais um ponto para a caminhada #AssinaElmano que levou voluntários para cadastrar diabéticos, além de disponibilizar, através do Itacor, enfermeiras que mediam a pressão dos caminhantes.
Alguns tipos mais severos de diabetes necessitam de mais de uma variedade de insulina para o tratamento, além de agulhas e testes glicêmicos especiais (para medir a taxa de glicose no sangue) – o que encarece a terapia. Diante das estatísticas, podemos avaliar quantas pessoas portadoras da enfermidade devem passar por extremas dificuldades todos os dias. Quantas vão a óbito por falta de conhecimento até mesmo de seus direitos?
A Lei Federal 11.347 de 27 de setembro de 2006 assegura “...a distribuição gratuita de medicamentos e materiais necessários à sua aplicação e à monitoração da glicemia capilar aos portadores de diabetes inscritos em programas de educação para diabéticos”, mas, como tudo nesse país, para funcionar é um sufoco e quem tem a saúde frágil sofre mais ainda.
Na prática, a Lei funciona parcialmente. A saúde brasileira foi municipalizada e nem todas as cidades têm recursos suficientes para bancar o tratamento caro. Mas, mesmo assim, a lei tem que ser cumprida. Por conta dessa lacuna jurídica e falta de práxis política, outras leis são criadas como amparo para a lei maior. A publicitária Jeane percebeu isso e trouxe o exemplo de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, para Teresina. O projeto foi acolhido pelo vereador José Ferreira que conseguiu que fosse aprovada sem nenhuma dificuldade por seus pares.
A prefeitura alega que não tem recursos para bancar o que dispõe a lei. Se ela tem recursos ou não, faz-se necessário repensar o orçamento municipal. A saúde de seus cidadãos é muito mais importante do que tudo. A vida é e sempre será prioridade. Um veto à Lei dos Diabéticos seria desumano. É como jogar uma pá de cal no que resta de vida de milhares de teresinenses. Nessas horas, o dinheiro, sua distribuição e encaminhamentos precisam ser revistos pelo bem de todos.
Os diabéticos têm famílias e elas também são atingidas pela doença. Um membro de um grupo de quatro entes compartilha, nem que não queira, de suas agruras com os demais. É dessa forma que a cidadã Jeane Melo assumiu a luta coletiva pelos diabéticos. Aos 9 meses de idade, recebeu o diagnóstico de que o filho, Enzo, iria conviver com a doença. Depois de muita luta e enfrentamentos burocráticos, a publicitária conseguiu através da justiça, liminar que lhe garante os medicamentos para a criança que hoje tem 6 anos. Muita gente poderia descansar e cruzar os braços, mas não foi o que a guerreira Jeane fez.
Ao contrário, a publicitária adotou os demais diabéticos e como um extenso abraço de mãe, oferece acolhida carinhosa, muita disposição e bom-humor para a luta. Liderando a mobilização no Twitter e a caminhada #AssinaElmano, a jovem vem recebendo o apoio e simpatia de grande parte da população que reconhece nela uma alma caridosa e emblemática para a luta social.
A caminhada da tarde/noite do sábado trouxe do Twitter uma grande oportunidade para repensarmos posicionamentos e atitudes. Muitos dos que estavam na mobilização não são diabéticos, nem tem familiares com a doença, mas, mesmo assim empunharam a bandeira pelo direito de seus irmãos. Isso se chama solidariedade. Um sentimento que nasce do amor maior que todos temos, mas que precisa sempre ser estimulado. É em nome desse amor que eu, nós, pedimos ao prefeito: #AssinaElmano!
Fonte: http://wap.180graus.com/politica/movimento-assinaelmano-surgiu-do-twitter-para-socializacao-geral-433634.html
P.S.: Parabéns, Willian Tito, pelo excelente texto. Mostrou muita sensibilidade, lucidez e responsabilidade.
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