Por Raimundo Júnior
Como diabético, tenho propriedade para relatar como é situação em Teresina. A primeira batalha a ser vencida é a psicológica. Aceitar uma doença crônica é um drama para o paciente e sua família. Ela exige uma mudança radical no seu estilo de vida. Vencida essa batalha psicológica, que para alguns duram uma eternidade, nos deparamos com uma dificuldade bem maior, que é o recebimento da medicação básica.
Um diabético precisa: consultar-se regularmente com diversos especialistas, ter acesso a medicação regularmente, monitorar as taxas diariamente, dieta e praticar atividade física. Isso é o feijão com arroz do tratamento. Sem esse mínimo é impossível controlar a doença. Mas a realidade é outra, existe uma lacuna enorme entre o que se precisa e o que é oferecido pela Prefeitura de Teresina.
A demora na marcação das consultas é um problema que todos vivenciam. Não irei nem me aprofundar nesse assunto. Academias? A prestação desse serviço, lamentavelmente, inexiste. Medicação? Você lembra do Fiat 147? Pois é, fazendo uma analogia ao que a Prefeitura disponibiliza para o nosso tratamento. Algo ultrapassado diante de tantas novidades no mercado.
Agora vejam, em detalhes, o que é oferecido pela Fundação Municipal de Saúde (FMS):
- Agulhas em um único padrão (são as mesmas que vocês têm acesso nos hospitais públicos e que assustam a maioria dos pacientes), sendo que existem no mercado agulhas três vezes menores e menos dolorosas;
- Insulina NPH (no meu caso, como na maioria dos pacientes, ela provoca muitas crises de hiperglicemia e hipoglicemia, e tem efeito de 12h), embora exista insulinas mais modernas, com efeito de duração de 24h e com ação mais estável. No meu caso, especificamente, seria uma redução de 90 para 60 furadas. Isso fora as cinco furadas diárias para verificar a glicemia;
- Seringas. As fornecidas pela FMS medem de duas em duas unidades. Por exemplo, se for preciso tomar 16 unidades diárias, você conta oito tracinhos e beleza. Agora se você precisar tomar 17, nunca poderá tomar a dose exata. Sem falar no problema do ar que quase sempre fica dentro da seringa. Você pode se perguntar, que diferença faz um pouquinho mais ou menos? É aí que reside um problema gravíssimo, uma vez que isso que você pensa que é pouco, pode provocar crises de hiper ou hipor constantemente. O mercado está cheio de canetas de aplicação com custos não muito alto. Além da vantagem de proporcionar uma dosagem exata, ela ameniza a dor e oculta qualquer preconceito que possa vir surgir.
Essa medicação citada é a que tive acesso até o momento. Ainda são necessárias as tiras reagentes (já estou com sete meses aguardando da FMS e até agora NADA, isso pra não dizer que nunca recebi, pois sem elas é impossível ter um monitoramento constante da doença). A diabetes é muito dinâmica, qualquer deslize você perde totalmente o controle. É como você dirigir um carro desgovernado. Só que no caso do diabético, esse carro é a sua vida que está em apuros. As conseqüências nós já estamos CARECAS de saber.
Resumindo, a medicação oferecida atualmente pela Prefeitura de Teresina não é suficiente para um bom controle da diabetes. Ela oferece apenas parte do tratamento, e isso é enganação e desrespeito à vida.
Prefeito Élmano Férrer, mostre-me o que fazer com 99% das pessoas que não tem como bancar o tratamento? É deixar morrer? Se essa lei não for sancionada, eu só posso pensar que a vida de milhares de teresinense não tem importância alguma para Vossa Excelência.
Talvez seja esse o motivo da diabetes ser a doença que hoje mais cresce no Brasil. Porque nossos governantes fazem vistas grossas para um problema sério e urgente.
P.S.: Deixo claro que a culpa não é apenas da FMS, a burocracia atrapalha muito também. Mas a FMS pode reverter toda essa situação com a aprovação da Lei.
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